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VIDAS PELO REINO
ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA
RIBEIRÃO CASCALHEIRA  MT – 14 E 15 DE JULHO DE 2001

PRELAZIA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA

“Ribeirão bonito,
cruz do Padre João
alta Cascalheira, gentes do sertão:
o suor e o sangue fecundando o chão”

Entre os dias 14 e 15 de julho de 2001 aconteceu em Ribeirão Cascalheira-MT, na Prelazia de São Félix do Araguaia, a ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA, como tema: VIDAS PELO REINO!

DE ONDE VEM E QUEM SÃO ESTES ROMEIROS?
A partir da experiência eclesial na América Latina uma série de experiências e termos foram surgindo. Entre elas,  a forte expressão: CAMINHADA. Os romeiros que vêm a esta romaria são pessoas da caminhada. Caminhada das lutas sociais, das pastorais populares, dos grupos de solidariedade, do compromisso com os pobres,das comunidades eclesiais de base. São pessoas de sotaques diferentes, de costumes, culturas e formação diversas; gente de nações, povos e etnias diversas – mas com uma característica comum: são sonhadores e sonhadoras do REINO. Isto sim nos identifica. Em meio a tantas convocações que nos são feitas, existe esta em particular: Romaria dos Mártires! Bem no centro oeste do Brasil, em meio ao cerrado, de gente com traços indígenas ou de retirante, gentes do sertão. Gente do Araguaia: é neste chão que a Prelazia de São Felix do Araguaia convoca o povo para esta romaria. Enfrentando poeira e muita estrada de  tempo-em-tempo  o povo se reúne para fazer memória de mulheres e homens, jovens e crianças; indígenas, camponeses e operários; mães de família e religiosas, religiosos, sacerdotes, bispos; advogados, estudantes, jornalistas; militantes da terra, do trabalho, da cidadania, dos direitos humanos: vidas dadas pela vida, pela justiça, pela libertação, pela verdadeira paz.

COMO É A ROMARIA?
É um momento forte da  espiritualidade martirial. Com todo respeito a todas as romarias que temos no nosso universo religioso, nas quais se recorda uma aparição, uma devoção a um santo,  a buscar água que cai de uma gruta, etc ... na romaria dos mártires  é diferente: procura-se beber no poço e no testemunho daqueles que “vêm da grande tribulação, que lavaram as túnicas e as alvejaram no sangue do cordeiro”(Ap 7).
Em Ribeirão Bonito-MT no dia 11 de outubro de 1976, duas mulheres sertanejas, Margarida e Santana, estavam sendo torturadas na cadeia . Era época da novena da padroeira Nossa Senhora Aparecida. Nesse dia haviam chegado ao povoado o Bispo Pedro e o Padre João Bosco, jesuíta que trabalhava com os índios Bakairi. Os dois foram interceder pelas mulheres torturadas. Um soldado desfechou no rosto do Padre João Bosco um soco, uma coronhada e um tiro fatal.
Tempos depois em Ribeirão Bonito foi construído o Santuário dos Mártires da Caminhada, para recordar não apenas a história do Pe João Bosco, mas de tantos e tantas que há séculos vem regando com sangue a história deste nosso continente.
Assim é organizada a romaria. Tudo feito em mutirão. Famílias que acolhem os romeiros, coletas de alimentos, trabalho voluntário e deste jeito o milagre da partilha  acontece!
Em meio a muito simbolismo, fatos que não se explicam, mas,  são sentidos e acolhidos no pulsar do coração,  é que vimos nesta romaria um explodir de gestos capazes de fazer falar o que as palavras por si não conseguem  expressar.
Nesta romaria presenciamos este universo simbólico marcadamente popular que se expressara:
Nas cores – durante todo tempo foram utilizadas as cores vermelha e o branca. Nas diferentes toalhas do altar, na estola, nas fitas distribuídas, etc.
Nas vestes: batas com traços indígenas para equipe de liturgia, túnicas de cores variadas para os jovens que traziam os objetos litúrgicos, nos vestidos utilizados pelas mulheres que deram a bênção
Nas lembranças presenteadas – cabaças com desenhos e pirografadas: “Vidas pelo Reino”, fitas, tochas
Nos desenhos – assegurando os traços indígenas, nos painéis pintados
Nos objetos litúrgicos – feitos de pau Brasil ou cabaças e pintados cada um de forma diferente
Nos estandartes – feitos em tecido de algodão e impresso a fotografia de cada mártir
No fogo, nas tochas, chapéus, palmas...
Nos cantos - refrões, mantras, no som de flautas, atabaques e berrante.
Nos alimentos - que foram preparados. Todos frutos da economia da partilha. De gente que deu arroz, mandioca, banana. Tudo partilhado gratuitamente.
Na acolhida- de gente que abriu portas e corações para receber os romeiros.
Vejamos como estes gestos e expressões foram acontecendo no decorrer da romaria.

Oração na Capela da Cruz do Pe. João - 13/07/2001 – Sexta Feira
No dia 13 , sexta-feira, com o grupo dos romeiros que já haviam chegado, aconteceu a oração na Capela da Cruz do Pe. João. Neste local existia a antiga casa da equipe pastoral.Lá moravam as irmãs que atendiam o povo. Entre elas a Ir.Bia que junto com outro médico atendeu ao Pe. João fazendo naquele momento o que estava ao seu alcance.O caso era grave.  Lá ele agonizou . Hoje,  existe no local uma pequena capela, onde está a cruz que o povo “plantou” no dia do seu martírio.
Nesta oração, naquela noite de céu estrelado, com velas na mão, entre cantos , preces e testemunhos recordou-se o momento em que Pe. João Bosco “cheio de agonia orava com maior  insistência, e gotas de sangue escorria por terra” (Lc 22,44) e junto a ele, amigos que como “anjos do céu os confortava”(Lc 22,43). Logo depois da proclamação do Evangelho – João 15, 12-13 chegou o Padre irmão de João Bosco. Ele tem 82 anos. É surdo-mudo. Veio também como romeiro participar do jubileu.
A pequena  capela, de tijolo à vista, tem apenas uma cruz e uma foto da destruição da delegacia feita pelo povo no dia do martírio. Na frente uma pequena porta em forma de grade. O Bispo Pedro, recordou que esta é semelhante a  “porta estreita”  do evangelho ( Lc 13,24) e convidou a todos a entrar e  fazer sua oração. Enfileirados, todos entraram, beijaram a cruz e  saiam.

A Procissão da Luz - Dia 14/07/2001

No dia 14 sábado, os romeiros começam a chegar de diversas regiões do Brasil e também de outros países. Muita gente que vamos encontrando em outras atividades – são romeiros da CAMINHADA! Entre abraços e beijos, é na verdade,  o encontro da família! Durante todo o dia os romeiros foram recebidos, acolhidos e distribuídos por entre casas de famílias, colégios, etc – ninguém importava onde ficar. Todos procuravam um lugar onde  fosse possível “esticar” o corpo, depois de muitas horas de viagem.
A romaria já havia começado,  mas a abertura oficial se deu em frente a Igreja São João Batista, num grande círculo, em volta da  fogueira. O berrante anunciou a abertura do  jubileu: Os romeiros da caminhada, da Pátria Grande, dos irmanados neste sonho, faziam ecoar no céu e na terra que há 25 anos atrás, aquele pedaço de chão havia sido banhado com o sangue de um justo. Em silêncio, ao som da flauta,  com o vermelho do pôr do sol , como se Deus nos mandasse dizer, que o sangue dos mártires havia chegado até Ele, ouvimos a canção: “ Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós”...a fogueira foi acesa e aos poucos meninas com vestes coloridas entravam e deitavam no chão por sobre palmas.
E todos cantaram: “Acorda América, chegou a hora de levantar” e as crianças levantaram do chão e dançaram com fitas coloridas.
Chega a “cruz do Pe.João”, mas não só a dele... em painéis de tecido foram impressos fotos dos nossos mártires – homens, mulheres, jovens, crianças desta pátria grande, que deram com seu sangue o testemunho... Eram grandes estandartes com fitas brancas e vermelhas,  eles entraram na roda com a gente...e o Bispo Pedro, invocou a Trindade Santa e nos convidou a pedir perdão...
O fogo foi abençoado e todos  receberam pequenas lamparinas, e  tirando da chama do fogo novo, acendemos nossa vela , nossa esperança e nosso compromisso. Aquela assembléia transformou-se  num grande clarão.
 Começava a caminhada de três quilômetros até Ribeirão Bonito – onde está o Santuário dos Mártires da Caminhada...
Velas acesas, faixas, pés cheios de pó. Realidade longe do “progresso”, tão distante do “Brasil urbano”, era a multidão dos que sonham uma Igreja e uma sociedade nova. Á frente da caminhada ia a cruz; junto à cruz Pedro Casáldaliga. Ele usava uma estola, preparada com todo carinho por uma religiosa de Itabuna-BA. A estola  toda bordada em vermelho, trazia o nome dos mártires e o tema: Vidas pela Reino...
A chama das milhares de velas reunidas fez com que aquele chão do sertão se transformasse num grande fogaréu, como se Jesus estivesse a  dizer: “Eu vim por fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso” (Lc 12,49).
De cima de um trio elétrico a equipe de liturgia  motivava a rezar, cantar, dizer palavras de ordem e organizava as paradas.
Em cada parada uma enorme pira era acesa, a cruz era levantada, palmas sacudidas e entoado o refrão: “Vidas pela vida, vidas pelo Reino.Todas as nossas vidas, como suas vidas.Como a vida D Ele.Do mártir Jesus”...
Na primeira parada o tema foi Direitos Humanos. Uma mulher da Colômbia partilhou com todos os romeiros a situação da América Latina e em particular do seu país... Neste momento foi aberta a grande bandeira do Brasil, confeccionada com retalhos vindos de todos os estados do nosso país por ocasião do 10º encontro das CEBs em Ilhéus-Ba,precisamente há um ano atrás. Ela foi estendida por entre o povo e continuamos a caminhada cantando: este é o nosso pais esta é a nossa bandeira...
A segunda parada foi sobre a terra – casa de todos! Uma pessoa da equipe da CPT recordou o encontro nacional da CPT em Bom Jesus da Lapa na BA e os compromissos lá assumidos. Falou do que representa a terra para os que creêm na Proposta do Deus da Vida.Também fez menção do apoio dado pelo Bispo Pedro por ocasião da fundação da CPT e entregou a ele alguns símbolos.
A caminhada continuou entre  cantos, preces e sobre um céu estrelado...O brilho que vinha do céu  encontrava-se com o brilho na terra...e uma faixa na beira da estrada nos acolhia com as palavras do poeta : “gente foi feita pra brilhar”!
A terceira parada era pra recordar o grito dos povos indígenas e quem deu seu testemunho foi um índio dos povos Bakairi , onde trabalhou o padre João Bosco. Ele recordou palavras do missionário mártir  e o que representou para seu povo seus ensinamentos. Pediu apoio dos presentes na luta pelo encaminhamento e aprovação do novo estatuto dos povos indígenas.
Em passos lentos fomos caminhando, e a quarta parada foi pra lembrar da luta dos negros.Um rapaz do movimento negro de Goiânia falou para nós da história dos negros e negras no Brasil, dos seus mártires e hoje, do compromisso para acabarmos com qualquer tipo de preconceito.
O cantor e poeta Zé Vicente, estava presente, e entoou a canção: Os tambores dos negros de palmares  os tambores do povo de Zumbi...
E assim fomos chegando na quinta parada: o tema foi trabalho e dignidade. Um rapaz de São Paulo da Pastoral Operária, recordou a situação do desemprego no Brasil e terminou convocando a todos para repetir o poema de Dom Pedro: “No seio de Maria, Deus se fez homem/ e na oficina de José, Deus se fez classe”...
Depois deste peregrinar, as velas já iam se consumindo...as pernas cansando...e enfim a romaria chegou! O artista Cerezo Barredo fez um mosaico  na frente do templo, com pequenos pedaços de ladrilho, de cor amarelo e letras vermelhas: SANTUÁRIO DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA.
Dentro do santuário, três grandes painéis feitos pelo mesmo artista.Um que retrata os mártires latino-americanos, outro junto ao sacrário e outro saudando Maria, companheira da caminhada. Ao fundo uma galeria com fotos de mártires do Brasil e dos demais países da Pátria Grande. As pessoas entravam no santuário, olhavam as fotos .Alguns anotavam os nomes e o “dia natalis” (dia do martírio, do novo nascimento) outros rezavam... outros chegavam bem perto da camisa do Padre João Bosco, com a marca do sangue.
E todos embora cansados, na frente do santuário saudaram aquela “casa santa”,  cantando: “’O gente, que casa é esta? Casa de grande valor, pois aqui será lembrada a memória do Senhor”.
Depois desta caminhada uma pequena pausa para refazer as energias e iniciar a vigília martirial.
Já depois das 22 horas, ao lado do santuário, num palco muito bem ornamentado  iniciou-se a Vigília. Jovens entraram incenssando o espaço, tochas eram acesas, cantores da caminhada intercalavam com canções. O povo respondia com frases e preces.
A Palavra de Deus foi proclamada. A leitura dirigida a todos foi tirada do livro do Apocalipse, que falava “daqueles que vêm da grande tribulação” (Ap 7,1-14).
Nesta vigília todos rezaram, cantaram e já de madrugada  no final,  mulheres das comunidades, todas elas vestidas iguais, com cuias de água, saíram por entre o povo aspergindo e abençoando. Depois  foi partilhada  pipoca e vinho- ressurreição e alegria!
Festejando a Páscoa - Dia 15/07/2001
Domingo dia 15/07 – Desde 6 horas da manhã ao som de canções o povo era convocado a levantar-se  e preparar-se para a grande celebração eucarística.
No Santuário dos Mártires da Caminhada, em Ribeirão Bonito, às oito horas da manhã iniciamos a Eucaristia. Ao redor da mesa, todos receberam fitas vermelhas e brancas, impresso: VIDAS PELO REINO.  Entre mantras, painéis com fotos dos mártires os jovens entraram para acender o círio e o candelabro. Outra jovem espalhava por entre palmas, terra proveniente de diversas partes do Brasil. Ao redor do altar os Bispos Pedro Casaldáliga, Eugênio (de Goiás)  Almir (da Igreja Anglicana de Brasília), um pastor Luterano, Pe. Chicão de Goiás, o irmão do Padre João Bosco (que também é sacerdote) e  religiosas.
O evangelho proclamado foi do Bom Samaritano que foi partilhado pelo Pastor Luterano . Ele falou do que significa a “perda” na nossa caminhada, a irmã Bia que atendeu o Pe. João Bosco recordou como foi aquele dia de “agonia”, sua vontade de  “salvar” aquela vida. Por outro lado,  diz que  “entendeu depois o que Deus queria dizer com este martírio. Com a morte do Pe João o povo criou coragem e enfrentou a luta pela libertação. Em plena ditadura militar onde era proibido qualquer tipo de organização, o povo começava a se levantar”. Todos ficaram atentos a cada palavra pronunciada pela Ir Bia e a recebia como testemunho vivo.
O Bispo Almir fez a ligação do texto com o momento político que vivemos. Pe Chicão contou  sua história e seu martírio. Contou que é sacerdote italiano que veio há mais de 30 anos para o Brasil. Que em Goiás ao redor da Palavra de Deus colocou-se a serviço da organização dos trabalhadores e um dia alguém o chamou e quando voltou para ver quem era – recebeu um tiro no rosto que o tornou cego. Convidou os presentes e continuarem firmes a  ter uma militância política. O Padre irmão de João Bosco de 82 anos de idade, tem dificuldade em falar e ouvir, mas escreveu e leu um pequeno texto. Poucas palavras eram compreendidas  pelos  ouvidos, na verdade elas foram  acolhidas pelo coração.
Pedro Casáldaliga explicou suas palavras e chegou a dizer que com todo respeito a todos os romeiros – o irmão do Pe João era naquela romaria o “romeiro mais importante para nós”...
Um agente de pastoral que tinha trabalhado na prelazia também falou, recordou as dificuldades vividas no trabalho junto aos posseiros no tempo em que ali serviu.
Dom Eugênio de Goiás  reafirmou a caminhada conjunta entre as duas dioceses e por fim o Bispo Pedro que  pediu: “ não esqueçam dos nossos mártires”.
Foram  trazidos ao altar presentes provenientes de diversas parte do Brasil e até de outros países. E o pão e vinho  depois de consagrados foram partilhados enquanto cantávamos: comungar é tornar viva aliança, em Jesus razão de nossa esperança.
Ao som de canções populares desta região , duas cantoras motivaram a entrada de um bonito estandarte homenageando Maria. Entre passos meigos e ternos, a jovem dançava e do  meio do povo começou a surgir muitas flores de papel que ao sacudir iam abrindo formando um grande jardim. O poeta Pedro Tierra também recordou os tempos difíceis das prisões, das condenações e a presença solidária de Casaldáliga. Recordou um dos seus poemas que diz: “malditas as cercas de arame farpado”.  Disse que esperou muito tempo para encontrar um rosa para traze-lo, e agora havia encontrado. É uma rosa especial trazida para ele.  Mostrou a todos : uma rosa feita de arame e tela representando a ternura e a resistência.
Já quase 11 horas da manhã, debaixo de um sol quente, O Bispo Pedro ia recordando o compromisso e todos os romeiros iam respondendo e assumindo.
O folder distribuído apresenta o que foi assumido:
“Abraçamos, no amor, estes compromissos:
·        Na família, no trabalho, na luta e na festa
seremos sempre testemunhas alegres da Páscoa.
·        Meditaremos e anunciaremos a palavra de Deus
e celebraremos a Fé e a Vida em comunidade.
·        Seremos uma Igreja Ecumênica, acolhedora das
várias culturas e aberta a toda religião servidora da vida
·        Participaremos ativamente do sindicado, da política, do movimento popular
·        Cuidaremos da natureza natureza como dom de Deus.
Lutaremos pela terra e pela moradia
pela saúde e pela educação
pelo trabalho e pelo lazer.
E contestaremos, profeticamente
o neoliberalismo e o latifúndio
a corrupção e o servilismo
o consumismo e a manipulação.
·        Jovens e crianças, mulheres e homens
no campo e na cidade
diferentes nas culturas e iguais nos direitos
seremos um Povo só
nos muitos povos desta Pátria Grande
com todos os povos solidários deste mundo”.
Já  no final da celebração, alguém comunica a Dom Pedro que a mãe do Padre Josimo,  estava no meio do povo. Ela é chamada até o altar. O Bispo abraça calorosamente Dona Olinda. Desde que a conhecemos Dona Olinda é sempre assim: mulher de poucas palavras e sorriso tímido. Ele pede que ela nos dê a bênção final. Ela nos abençoa em nome da Trindade Santa  e por último  o Dom Pedro Casáldaliga  diz:
Que a memória dos mártires não deixe ninguém dormir em paz”...
Todos voltaram para o barracão... lá foram partilhados a segunda refeição... e entre abraços e danças, aos poucos, cada grupo de romeiro era convidado tomar seus ônibus e a enfrentar horas e horas de viagem entre a poeira e o cerrado, entre as cercas e os bois,  entre o silêncio da noite e a viola do sertanejo...  Todos voltaram regados pelo sangue dos mártires, alimentados pela solidariedade dos que os  acolheram,  reacendidos na fogo da esperança e rezando  a Javé o Deus dos Pobres: “Derramai também em nós o vosso Espírito de União, de fortaleza e de alegria, para que demos totalmente nossas vidas pela causa de vosso Reino”.
Amém, Axé, Awere,Aleluia!

Pe Edegard Silva Júnior


Missionário Saletino